Cartão de crédito rotativo: juro soma 434% ao ano em novembro, antes da mudança nas regras
Taxa de inadimplência da modalidade totalizou 53% em novembro, segundo o BC. Governo anunciou mudança nas regras do cartão de crédito rotativo no fim de 2023, com limitação do valor total cobrado pelos bancos em juros (que não poderá exceder o valor original da dívida). Dívidas com cartão de crédito
Reprodução/ EPTV
Os juros médios cobrados pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo recuaram de 445% ao ano, em outubro, para 434,5% ao ano em novembro, informou o Banco Central nesta quinta-feira (4).
Foi o menor nível registrado desde março do ano passado (433,3% ao ano), mas em um patamar ainda considerado muito elevado por especialistas. As novas regras que tentam limitar esse juro começaram a valer nesta quarta (3) (veja detalhes abaixo).
O crédito rotativo do cartão de crédito é acionado por quem não pode pagar o valor total da fatura na data do vencimento.
Mesmo com a queda em novembro, essa continua sendo a linha de crédito mais cara do mercado e, segundo analistas, deve ser evitada.
A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura mensalmente, evitando a cobrança de juros exorbitantes.
Por conta dos juros altos cobrados pelos bancos, a taxa de inadimplência do cartão de crédito rotativo, segundo dados do BC, somou 53% em novembro deste ano.
Mudança nas regras
No fim do ano passado, o governo anunciou mudança nas regras do cartão de crédito rotativo, após uma decisão do Congresso Nacional tomada em outubro de 2023 – e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com a mudança, o valor total cobrado pelos bancos em juros no cartão de crédito rotativo não poderá exceder o valor original da dívida.
Se a dívida for de R$ 100, por exemplo, a dívida total, com a cobrança de juros e encargos, não poderá exceder R$ 200. O custo do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), entretanto, está fora desse cálculo. Isso vale somente para débitos contraídos a partir de janeiro.
“A conta é simples assim. Mas a conta é feita para cada ingresso. Se entrou R$ 100 reais [no cartão de crédito] em janeiro, [a dívida total] não pode superar R$ 200. Se houver novo ingresso [no cartão de crédito rotativo] de R$ 200, o novo ingresso não pode superar R$ 400”, explicou o consultor no Departamento de Regulação do Sistema Financeiro no Banco Central, Antonio Guimarães, no mês passado.
A mudança vale para operações contratadas desde 3 de janeiro deste ano. Como a nova regra passou a valer somente a partir desta data, a dívida poderá superar 100% (duas vezes o seu valor) se tiver sido contraída antes.
Juros do rotativo do cartão não poderão ultrapassar dívida original desta quarta-feira (03)
Recomendações
Segundo Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, apesar da positividade da mudança anunciada pelo governo, a discussão sobre a necessidade de lidar com os altos juros persiste.
“O cartão de crédito desempenha um papel significativo nas finanças pessoais, muitas vezes sendo visto como um vilão que contribui para o endividamento das pessoas. Especialmente entre os jovens, o cartão é frequentemente utilizado devido à sua conveniência, incluindo a possibilidade de pagamento por aplicativos de celular”, avaliou Reinaldo Domingos, presidente da Abefin.
De acordo com ele, porém, é importante reconhecer que o cartão de crédito pode ser um “aliado valioso quando usado com sabedoria”. “A chave para evitar o ciclo de dívidas mensais e a pressão financeira é a educação financeira, abordando o cerne do problema”, acrescentou.
Veja recomendações do especialista
Estabeleça um limite consciente: Evite que o limite do cartão de crédito ultrapasse 30% de sua renda mensal. Isso garante que você não gaste mais do que pode pagar.
Cuidado com parcelamentos: Embora o parcelamento seja tentador, é crucial ter comprometimento para cumprir essas despesas nos meses seguintes.
Evite a parcela mínima: Pagar apenas a parcela mínima resulta em altas taxas de juros e potencial inadimplência.
Negocie anuidades: Busque negociar com a operadora do cartão para reduzir ou eliminar as taxas de manutenção. Hoje, existem opções de cartões sem taxas.
Aproveite os benefícios: Use os benefícios do cartão, como milhas e prêmios, de forma consciente. Lembre-se de que essas vantagens têm prazos de validade.
Outras opções de crédito: Caso não possa pagar a fatura integral, avalie imediatamente sua situação financeira e busque opções de crédito com taxas mais baixas.
Evite compras impulsivas: Faça perguntas críticas antes de comprar algo, como a necessidade real do item, a capacidade de pagar a fatura e se a compra é baseada em desejo ou influência externa.
Identificar dívidas e receitas é o primeiro passo do planejamento financeiro
Portabilidade a partir de julho
Outra novidade anunciada é que os clientes com dívidas no cartão de crédito rotativo poderão fazer a portabilidade gratuita do saldo devedor de uma instituição financeira para outra a partir de 1º de julho de 2024.
“Por exemplo, você vai buscar uma instituição financeira que te ofereça juros menores ou melhores condições de pagamento, e pedir a ela uma proposta. Com isso em mãos, você pode checar se o banco onde você tem a dívida original quer fazer uma contraproposta”, informou o BC, por meio de rede social.
No caso da portabilidade das dívidas do cartão de crédito, ficou definido:
a proposta da instituição proponente deve ser realizada por meio de uma operação de crédito consolidada;
a instituição credora original que realizar uma contraproposta deve apresentar ao cliente, no mínimo, uma proposta de operação de crédito consolidada de mesmo prazo da operação proposta pela instituição proponente, para fins de comparabilidade dos custos.
caso aconteça, a portabilidade do crédito deve ser feita de forma gratuita.
Fonte: G1