Orquídea centenária que veio do RJ produz baunilha de alta qualidade no ES
Produção em Muqui, no Sul do Espírito Santo, tem 15 pés de baunilha. Por causa do cultivo delicado, 100g de baunilha chegam a custar R$600. Família de Muqui, no ES, cultiva baunilha há mais de 100 anos no ES
Uma orquídea centenária que vive em Muqui, no Sul do Espírito Santo produz uma das especiarias mais valorizadas do mundo. A planta veio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e foi levada para Muqui pela família Cândido. Desde então, a tradição foi passada de geração em geração na família.
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Aos 92 anos Mariah Candido da Rocha lembra dos ensinamentos do avô, que cultivava a planta.
“E aqui ele foi cultivando, ensinando aqueles que queriam aprender. Inclusive, eu fui uma delas. Eu acompanhei ele no pomar dele e ele tinha os pés de baunilha”, contou Mariah.
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Produção de baunilha em Muqui, Sul do Espírito Santo
Reprodução/TV Gazeta
Depois de gerações, a produção que antes era caseira, vem se tornando comercial. Hoje, é o Franknelly, neto de Mariah, que toma conta dos pés de baunilha.
“Hoje nós estamos em torno de quinze pés. Só que produtivos estamos com oito. Um fato interessante é que o que produz esse ano, no próximo ano, não produz. Então nós temos que intercalar para ter sempre a baunilha todos os anos. É um processo manual e requer trabalho e dedicação”, explicou o produtor rural Franknelly Bettero.
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O aroma e o sabor da especiaria são utilizados na culinária, nos cosméticos e na indústria farmacêutica. Por causa do cultivo delicado, 100g da baunilha chega a ser vendida por R$600.
“Agora com essa idade toda que eu tô vendo o valor que a baunilha foi tendo. A gente vai aprendendo, fazendo as coisas. Eu já fiz muito licor de baunilha”, disse Mariah.
Produção se deu a partir de uma orquídea que veio do Rio de Janeiro para o Espírito Santo há 100 anos atrás
Reprodução/TV Gazeta
Uma muda leva três anos para começar a produzir. Quando as flores chegam, é necessário fazer a polinização de forma manual. E tem até horário que é melhor para esse momento.
“A fecundação, a gente pega uma paletinha de bambu, que tem mais facilidade, pega o pólen da parte masculina e coloca na parte feminina, entre o horário de 9h da manhã, que aí quando você chega perto com o pólen, a parte feminina já puxa o pólen automaticamente, então é uma coisa espetacular”, comentou o produtor rural.
Então são necessários 9 meses de espera para que as vagens se desenvolvam. Depois, outro processo delicado. A maturação da baunilha, que leva até 6 meses para ficar escura e pronta para ser vendida.
Na propriedade do Rui, que também é da família Cândido, a especiaria está presente há mais de 40 anos em meio a mata.
Espírito Santo possui as condições climáticas propícias para o plantio de baunilha
Reprodução/TV Gazeta
Mas só a partir de técnicas aprendidas nos últimos 20 anos que a baunilha foi ganhando qualidade e tamanho.
“Nós perdemos muito, porque dá muita flor no cacho e agente achava que se desse tanta flor era bom, mas ai ela não cresce. Eu coloquei cacho com 60 vagens dessa, mas ficou tudo pequeno, não cresceu. Ai depois nós começamos a pegar menos vagens pra pegar melhor”, disse o aposentado Rui Candido.
A propriedade cresceu e já conta com 100 pés com favas que passam dos 20 centímetros.
“A gente não tinha um interesse comercial porque a gente não sabia o real valor comercial dela. E é uma coisa assim que pode agregar um valor muito grande para a agricultura familiar. Porque num pequeno espaço você pode produzir uma planta que pode trazer uma beleza porque quando ela tá de flor ela tem a sua beleza e te dar uma renda para você sobreviver”, comentou o produtor rural Júnior Cândido.
Produção de baunilha já está há anos em várias gerações da mesma família
Reprodução/TV Gazeta
A busca por disseminar a especiaria pelo estado fez com que o pesquisador José Arcanjo buscasse técnicas para produção de mudas.
“Conseguimos produzir em laboratórios mudas que vieram de micro propagação por meio de cultura. Essas mudas foram disponibilizadas também para agricultores e ela se mostrou muito resistente, produtiva e agora ela pode servir como matriz para formações de novos plantios de baunilha. O Espírito Santo reúne todas as condições ambientais para o cultivo da baunilha, que é clima quente e a umidade, principalmente aqui em Muqui, s condições são muito propícias para o cultivo da baunilha. Mas ela vai muito bem do Sul ao Norte, nas regiões mais baixas”, explicou o doutor em produção vegetal José Arcanjo
Mesmo com os agricultores de Muqui produzindo baunilha de alta qualidade, conseguir espaço no mercado para a venda do produto ainda é um desafio.
“É difícil porque ninguém acredita que tem. Ninguém acredita que tem um produtor rural hoje no Sul do estado com uma baunilha de qualidade. O mercado alimentício que trabalha com a baunilha, eu não tinha conhecimento, achava que era só produto cosmético, mas a baunilha é usada para a área e alimentação. Eles não acreditam porque comprar baunilha que tá vindo de fora, importada”, disse Junior.
Mariah aprendeu com o avó sobre o cultivo de baunilha
Reprodução/TV Gazeta
O grande produtor mundial de baunilha é Madagascar, que fica na costa Ocidental da África.
“De Madagascar a baunilha vai para a Europa e Estados Unidos. De lá se faz a exportação para o Brasil. O que nós precisamos hoje é de conquistar esse mercado. A produção sendo localmente, isso vai favorecer também os consumidores”, pontuou o doutor em produção vegetal.
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Fonte: G1