A cultura da magreza e a saúde mental
Na minha infância, lembro-me da minha avó sempre elogiar as pessoas quando engordavam, principalmente as mulheres. Para ela, o ganho de peso as deixava mais bonitas. Hoje, se minha avó estivesse viva, certamente seu elogio soaria como uma ofensa. Como os tempos mudaram!
A busca pela magreza não é uma novidade na história da humanidade, mas nos dias atuais tornou-se quase que uma imposição. As redes sociais, em especial, têm papel importante na dessa ideia, disseminação imagens e mensagens que perpetuam a noção de que magreza é sinônimo de felicidade e aceitação social. No entanto, é fundamental questionar esses padrões e entender como eles impactam não apenas nossa aparência física, mas também nossa saúde mental e emocional.
Esta pressão social que glorifica corpos magros como ideal de beleza, pode levar algumas pessoas, especialmente as mulheres, a uma preocupação excessiva com o peso, impondo ideais inatingíveis de beleza que, para alcançarem, se submetem a dietas extremamente restritivas, exercícios exaustivos, o que pode resultar no desenvolvimento de transtornos alimentares graves, como a bulimia e a anorexia. Aqui, o espelho deixa de ser um parâmetro e entra em cena o medo de não agradar, implícito nos sentimentos e formas de relacionar consigo mesmo.
Além do autoconceito negativo, há o risco maior de desenvolver comorbidades como a ansiedade e a depressão, impactando negativamente a saúde mental. Para complicar, essa preocupação constante com a aparência física pode interferir na capacidade de se relacionar de maneira saudável com os outros, uma vez que a comparação constante com os padrões irreais de beleza pode minar a autoconfiança, incluindo a capacidade de conquista.
Nesta busca pelo corpo perfeito, perde-se de vista o que realmente importa. Por isso, dois pontos merecem destaque. Um está relacionado aos aspectos psicológicos. A comida não tem a função apenas de saciar a fome. Muitas vezes buscamos, por meio da comida, formas de minimizar a tristeza, a ansiedade, o estresse. Os motivos são variados, mas fica clara a função da comida como forma de extravasar sentimentos. Aqui, é preciso refletir o que leva a buscar na comida a compensação, através do prazer imediato, para preencher um vazio emocional que, no fim das contas, não resolve. E, como nem sempre há esta reflexão, o resultado é mais frustrações e, posteriormente, a procura por soluções imediatas como dietas radicais, purgação ou moderadores de apetites. O ciclo reinicia.
Um outro ponto é a importância de reconhecer que somos muito mais que aparência física. Nossa identidade deve ser pautada em valores e realizações individuais. O autoconhecimento aqui é fundamental identificando o que é melhor para si para não corresponder à expectativa dominante. A questão estética não deve estar à frente da saúde, principalmente a mental. Créditos: Joselene L. Alvim-psicóloga.
Fonte: G1