Aluno relata crises de pânico e afastamento do trabalho após agressões de personal trainer em academia: 'Muito medo'
Ao g1, vítima afirmou que desde o momento em que passou a frequentar a academia foi perseguida pelo suspeito das agressões. Caso foi registrado em Bauru, no interior de SP. Câmera registra agressão de personal trainer contra aluno em academia de Bauru
O aluno que foi agredido por um personal trainer dentro de uma academia, em Bauru, no interior de SP, afirmou ao g1 que está afastado do trabalho e que passou a ter crises de pânico desde o dia das agressões. O caso foi registrado em maio deste ano, mas as imagens da agressão só foram divulgadas no sábado (9).
A vítima, que não quis se identificar, contou à reportagem que desde o dia das agressões se sente ameaçada, com medo de sair de casa, e que passou a realizar acompanhamento psiquiátrico.
“Desde então tenho enfrentado crises intensas de ansiedade e ataques de pânico. Cada dia é uma batalha. Cada episódio é marcado por palpitações, falta de ar e tremores, mesmo com o suporte de um psiquiatra e medicação”, relata.
Ao g1, o rapaz afirmou que desde o momento em que passou a frequentar a academia foi perseguido pelo suspeito das agressões. Segundo ele, o motivo seria sua bissexualidade e a maioria dos comentários contra ele era de cunho homofóbico.
“Entrei na academia em 2016 e ele sempre fez comentários sobre minhas roupas, sobre o rapaz com quem eu tinha um caso. Sempre foi agressivo, inclusive nas redes sociais. O que enfrentei foi uma agressão claramente motivada pela homofobia”, conta.
Com a repercussão do caso, a vítima relata que sua orientação sexual precisou ser forçadamente revelada para os pais, causando mais um desconforto psicológico.
“O que mais me destruiu foi que eu não era assumido para minha família, minha amizade com meu pai mudou muito. Sempre tive medo de me assumir por conta de pessoas como ele, que sempre me perseguiu pelas minhas roupas, sempre fez comentários sobre minha sexualidade, com tom de deboche e desrespeito. Eu não estava pronto para me assumir”, revela.
Laudo médico aponta estresse pós-traumático em aluno agredido por personal trainer em academia
Arquivo Pessoal
Ainda segundo a vítima, a academia também não prestou a devida assistência, teria devolvido o pagamento e pedido para que ele não retornasse mais ao local.
“Desamparo total. No dia, o coordenador disse que ia devolver meu dinheiro e que não era pra por mais o pé ali. A solução deles foi cancelar minha matrícula, estornar o meu pagamento que havia sido feito no dia, e praticamente me expulsar”, diz.
Academia onde teria ocorrido as agressões devolveu dinheiro para aluno
Arquivo Pessoal
Sem frequentar a academia e longe do trabalho, o auxiliar de serviços gerais afirma que permanece lidando com o trauma não só das agressões físicas, mas da violência perpetrada no dia a dia por comentários contra pejorativos sobre a sua orientação sexual.
“Essas crises são uma consequência direta da violência que sofri, tornando difícil até mesmo as atividades cotidianas. Espero que, ao partilhar minha luta, possamos aumentar a conscientização sobre os impactos duradouros da homofobia na saúde mental e incentivar ações para promover um ambiente mais inclusivo”, pontuou.
Agressão durante o treino
Câmeras de segurança da academia registraram o início das agressões do personal trainer contra um aluno em Bauru.
Nas imagens, é possível ver o momento em que o aluno aborda o professor e mostra algo para ele no celular. Na sequência, o personal trainer parece se irritar com a atitude e eles começam a discutir (veja acima).
Neste momento, o educador físico passa a empurrar a vítima. Um outro colega de trabalho chega a tentar contê-lo, mas desiste, e as agressões continuam. O professor segura a cabeça da vítima e, segundo ela, a enforca.
Aluno relata que era perseguido na academia por personal trainer em Bauru (SP)
Reprodução/Câmera de segurança
Conforme relato do aluno no boletim de ocorrência, as agressões começaram após ele questionar o uso de meias para executar um exercício com o professor.
Ainda segundo a vítima, o personal trainer teria começado a xingá-lo e ameaçá-lo, afirmando que iria “lhe mandar para o hospital e lhe matar” caso o visse fora da academia. O aluno também disse à polícia que, em meio à briga, o instrutor o pegou pela gola da camisa e o empurrou contra a parede, agarrando-o pelo pescoço e dando três tapas no rosto dele.
Indenização por danos morais
No dia 10 de novembro, o suspeito das agressões assinou um termo circunstanciado se propondo a pagar R$ 900 a entidades beneficentes para que o processo não siga criminalmente.
Aluno denuncia agressão em academia de Bauru (SP)
Arquivo pessoal
No termo, o promotor de Justiça responsável pelo caso, Alex Ravanini Gomes, apresentou a proposta de aplicação de pena restritiva de uma prestação pecuniária que será paga em três parcelas de R$ 300, uma vez que o acusado é réu primário, resultando no arquivamento do processo.
No sábado (9), a acusação entrou com uma ação na Justiça de indenização por danos morais contra a academia, no valor de R$ 63,7 mil. O processo foi protocolado na 3ª Vara Cível do Foro de Bauru.
“A punição com apenas uma multa não foi satisfatória. Essa penalização mínima apenas encoraja pessoas homofóbicas financeiramente capazes a perpetrar tal crime. Quando a única consequência é uma multa, isso cria uma sensação de impunidade”, disse a vítima das agressões.
O que diz a academia?
Questionada sobre o caso, em maio de 2023, a academia confirmou que “houve um desentendimento entre um personal trainer, que não é funcionário da academia, e um aluno. Porém, não houve agressão”.
A instituição ainda ressaltou que o agressor é um personal trainer que dá aulas particulares no lugar. “Ele não tem vínculo nenhum com a empresa”, diz o comunicado.
“Assim como outros personais que pagam mensalidade e dão aulas aqui dentro, ele usa um uniforme com a identificação de personal trainer para diferenciar dos professores que trabalham em sala. No caso, estes, sim, são funcionários”, finaliza.
O g1 questionou a academia no sábado e a gerência informou que não tem mais nada a declarar ou acrescentar sobre o caso.
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Fonte: G1