Americanas: plano de recuperação judicial é aprovado em Assembleia de Credores; veja pontos
Empresa chega a um acordo para sanar R$ 50 bilhões em dívidas. Aporte de trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles será de R$ 12 bilhões. Fachada de uma loja física da Americanas
Divulgação
A Americanas conseguiu aprovar seu plano de recuperação judicial nesta terça-feira (19), em Assembleia Geral de Credores (AGC), com o apoio de mais de 90% dos votantes. A previsão é que a homologação do plano ocorra em janeiro de 2024, após o recesso do Poder Judiciário.
A empresa entrou com um pedido de recuperação judicial em janeiro de 2023, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, mas precisava dessa aprovação para começar a valer.
Em nota após a votação, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, destacou que o plano cria um “caminho bem pavimentado para a reconstrução operacional e financeira” da varejista.
“Foco total na operação para levar a melhor experiência de consumo a nossos milhares de clientes e seguir contribuindo com o impacto econômico e social de norte a sul do país”, disse o executivo.
A primeira versão do plano foi apresentada em março. A varejista levou, portanto, quase todo o ano para costurar um acordo para sanar R$ 50 bilhões em dívidas.
Na madrugada desta terça-feira, a empresa já havia afirmado que Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e outros credores aceitaram um acordo para apoiar o plano de recuperação.
Com isso, a Americanas chegou ao dia de avaliação com adesão de “parcela significativamente superior a 60% da dívida da companhia”.
BB e Caixa estão entre as instituições que confirmaram a informação e votaram sim para o plano.
Puderam votar na assembleia desta terça os credores da classe 3 (quirografários), que incluem fornecedores e investidores. Eles representam a maior parte da dívida da varejista (entenda mais abaixo).
Ao todo, 91,14% dos credores disseram sim para o processo de recuperação judicial. Esses apoiadores representam 97,19% da dívida concursal da Americanas. A votação foi realizada por volta das 20h, seis horas após o início da assembleia.
A aprovação teve bastante folga. Isso porque, para validar o plano, a companhia precisava apenas da adesão dos credores que representam mais da metade do volume de créditos cedidos à empresa, além do voto favorável da maioria dos credores presentes na assembleia.
Assembleia de credores aprova plano de recuperação judicial da Americanas.
Reprodução/YouTube/Escritório de Advocacia Zveiter/Preserva-Ação Administração Judicial
“O plano aprovado nos permite uma reestruturação de dívida e equacionamento financeiro para que possamos focar na estratégia de negócios e na meta de rentabilidade positiva em 2025, com plena captura da transformação que estamos promovendo em toda a companhia”, disse a CFO da Americanas, Camille Faria.
A expectativa da companhia é atingir patrimônio líquido positivo e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) superior a R$ 2,2 bilhões, com caixa e recebíveis na ordem de R$ 2,5 bilhões e dívida financeira bruta de até R$ 1,5 bilhão.
Veja abaixo os principais pontos da recuperação da Americanas:
Números da dívida a ser recuperada
O saldo de créditos a serem reestruturados é de R$ 50,1 bilhões
Após as auditorias, a fraude de resultado representou R$ 25,2 bilhões ao fim de 2022
A dívida trabalhista (classe 1) é de R$ 82,9 milhões
Não há dívidas com garantias reais (classe 2)
Os créditos quirografários (classe 3) — que incluem fornecedores, investidores, prestadores de serviços e outros credores comerciais, e sem garantias específicas — representam R$ 49,9 bilhões
Dívidas com microempresas e empresas de pequeno porte (classe 4) são R$ 180,2 milhões
Aporte dos acionistas
Os “acionistas de referência” da Americanas — o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles — injetarão R$ 12 bilhões em aumento de capital na empresa;
Atualmente, o trio detém 30,12% do capital social da companhia.
Do total, R$ 1,5 bilhão já foram aportados e outros R$ 3,5 bilhões serão enviados em até 15 dias após a data da homologação do plano.
Venda de ativos
Hortifruti Natural da Terra, com 75 lojas em quatro estados, e três centros de distribuição.
Uni.Co, empresa de franquias detentora de marcas com Imaginarium e Puket.
Possibilidade de venda, mediante avaliação: AME, de meios de pagamento, e operação digital (marketplace e estrutura ligada, com possibilidade de alcance da venda direta).
Outros destaques
Credores da classe 3 com dívidas até R$ 12 mil recebem integralmente, em parcela única, em até 30 dias da homologação.
Os que têm dívidas acima de R$ 12 mil podem renunciar ao valor acima desse corte para receber no mesmo prazo.
Quem decidir não renunciar, terá deságio de 50% e amortização em 48 parcelas.
Outra opção é deságio de 70% para pagamento em parcela única em 2039.
A empresa vai destinar R$ 100 milhões para quitar em 45 dias os fornecedores de tecnologia, como marketplaces e canais digitais, “importantes para o soerguimento da Americanas”.
Será feito um leilão reverso (vence quem efetuar o lance com o menor preço) de R$ 2 bilhões de créditos da Americanas, com mínimo de 70% de desconto.
Credores financeiros podem optar uma capitalização de créditos (conversão de dívidas em capital próprio) de até R$ 12 bilhões em ações ou de R$ 1,8 bilhões em debêntures da empresa.
Está previsto também uma emissão de novas ações, com preferência de compra para atuais acionistas: a cada três ações subscritas, o acionista recebe uma de bônus. (veja mais detalhes abaixo)
Credores que não se inscreverem para suas devidas modalidades serão pagos com 80% de deságio, em parcela única em janeiro de 2044.
Mudanças no plano
A Americanas ainda anunciou algumas mudanças feitas no texto inicial de recuperação judicial, de forma a deixar o plano mais claro para os credores a respeito do pagamento de seus débitos.
Além disso, a empresa também estabeleceu os critérios referentes ao preço de emissão de novas ações no aumento de capital previsto no plano.
De acordo com a companhia, ficou estabelecido que, com base no cálculo proposto, o preço deve ser de cerca de R$ 1,30 por ação. Esse preço só será válido se o plano de recuperação judicial da empresa for aprovado nesta terça-feira e após ter sido submetido à Assembleia de Acionistas da companhia.
Relembre como tudo começou
No dia 11 de janeiro, a Americanas divulgou um fato relevante informando que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.
O então presidente da Americanas, Sergio Rial, decidiu deixar o comando da companhia e o escândalo iniciou um processo de derretimento de uma das maiores varejistas do Brasil.
▶️ Como consequência da revelação feita na noite de quarta-feira, os investidores amanheceram em polvorosa. As principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão. Leia abaixo a reportagem abaixo.
▶️ Em poucos dias, a situação da Americanas degringolou. Depois de um derretimento das ações da Americanas na bolsa ao longo da semana e o início de disputas judiciais com credores em busca de pagamentos —, a empresa comunicou que mantém apenas R$ 800 milhões em caixa, o que torna a operação insustentável. Leia a reportagem abaixo.
▶️ Sem solução para a pressão dos credores, a Americanas foi obrigada a entrar com um pedido de recuperação judicial para travar a dívida. As “inconsistências contábeis” haviam levado as dívidas da empresa para a casa dos R$ 43 bilhões, entre aproximadamente 16,3 mil credores. Leia a reportagem abaixo.
Fonte: G1