Consciência racial cresce, mostra Censo 2022, mas desigualdades persistem
Pretos e pardos são maioria da população do Brasil, mas indicadores de renda, trabalho e educação apontam permanência da desigualdade racial histórica de oportunidades. Mulheres com turbantes em evento de comemoração ao Dia da Consciência Negra, no Rio de Janeiro.
Fernando Frazão/Agência Brasil
Os dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (22) mostram o aumento da população que se declara não branca no Brasil. Pela primeira vez, o número de pessoas que se identificam como pardos forma o maior grupo étnico-racial da pesquisa.
Somados, pretos e pardos são maioria da população brasileira (55,5%), mas outros indicadores de renda, trabalho e educação apontam que a desigualdade racial persiste no país.
Segundo o IBGE, a mudança nos dados do Censo revela a expressão da conscientização racial da população. Durante evento de lançamento dos dados, o presidente da Fundação Palmares, João Jorge, também destacou a importância do recenseamento para a criação de políticas públicas.
“Esse lançamento em Salvador, a cidade que mais recebeu africanos no país, é simbólico. Porque foi aqui que começou a luta de resistência dos quilombos no país e é por aqui que tem que começar a luta por igualdade. Esses números vão ajudar a dizer que a pobreza tem cor, que o desemprego tem cor”, afirmou.
Desemprego maior
O desemprego é maior entre pretos e pardos do que entre brancos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua apontou que a taxa média nacional de desemprego foi de 9,3% em 2022. Já a taxa de desocupação por cor ou raça ficou abaixo da média nacional para os brancos (7,6%) e acima para os pretos e pardos (11,1%).
A situação já era desigual desde 2012, início da série histórica da pesquisa. Naquele ano, a taxa de desemprego nacional foi de 7,4%, enquanto a de pretos e pardos de 8,6%; e a de brancos, 6,1% (veja no gráfico abaixo).
Renda e trabalho
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), também do IBGE, os profissionais brancos ganharam em média 61,4% a mais por hora trabalhada que pretos e pardos em 2022, considerando todos os níveis de instrução.
A média geral é de R$ 20 por hora para brancos e de R$ 12,40 para pretos e pardos. A maior diferença se dá para quem tem nível superior completo: R$ 35,30 para brancos, e R$ 25,70 para pretos e pardos.
A diferença mudou pouco em uma década. Em 2012, o rendimento médio por hora trabalhada era de R$ 20,10 para brancos, e R$11,8 para pretos e pardos.
A proporção de trabalhadores em ocupações informais também reflete desigualdades historicamente constituídas, como a maior proporção de pessoa de cor ou raça preta ou parda na ocupação de trabalhadores domésticos, sem carteira de trabalho assinada, além de trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a previdência social.
Em 2022, 40,9% dos trabalhadores do país estava em ocupações informais. Para as mulheres pretas ou pardas (46,8%) e os homens pretos ou pardos (46,6%), essa proporção foi acima da média nacional. Entre as trabalhadoras de cor branca (34,5%) e os homens brancos (33,3%), essas proporções estavam abaixo da média nacional.
As mulheres pretas ou pardas representam 41,3% dos pobres no país, e 8,1% dos extremamente pobres em 2022. O IBGE define como pessoas em situação de pobreza aquelas que vivem com até R$ 637 por mês; e em extrema pobreza, as que vivem com menos de R$ 200 por mês.
O patamar geral de pessoas pretas ou pardas pobres (40%) é duas vezes superior à taxa da população branca (21%), assim como a dos extremamente pobres, 7,7% contra 3,5%.
Jovens sobrecarregadas com o cuidado
Também de acordo com o SIS, dos 10,9 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham — conhecidos popularmente como “nem-nem”— , a maioria é de mulheres (6,7 milhões).
O principal motivo que tirou essas jovens do mercado de trabalho foi ter que cuidar dos afazeres domésticos ou tomar conta de parentes. Somada à desigualdade de gênero, há a desigualdade de cor ou raça, uma vez que 4,7 milhões delas são pretas ou pardas; e 2,2 milhões, brancas.
Trabalho infantil
Criança trabalhando, em foto de arquivo
Valter Campanato/Agência Brasil
Em 2022, a Pnad Contínua registrou 1,9 milhão de crianças e adolescentes entre 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil no país. Isso representa 4,9% da população nessa faixa etária.
Mas a proporção de crianças pretas ou pardas em situação de trabalho infantil (66,3%) supera o percentual desse grupo no total de crianças e adolescentes (58,8%). Já a proporção de brancos no trabalho infantil (33%) é inferior à sua participação no total de crianças e adolescentes (40,3%).
Violência
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a maioria das vítimas de mortes violentas no país é formada por homens negros, representando 76,9% dos 47,4 mil mortos em 2022. Além disso, são 83,1% das vítimas de mortes por intervenções policiais.
Fonte: G1