Jornalista Ricardo Pereira, ex-diretor da Globo em Portugal, morre aos 72 anos




Pereira tratava um câncer no pâncreas e no fígado. Na Globo por mais de 40 anos, participou de coberturas históricas como a redemocratização brasileira e o pós-guerra nas Malvinas. Jornalista Ricardo Pereira, ex-diretor da Globo em Portugal, morre aos 72 anos
Morreu na noite deste domingo (10), aos 72 anos, o jornalista e ex-diretor da Globo Portugal Ricardo Pereira.
A morte foi confirmada pela família. Os detalhes do velório e do sepultamento não foram divulgados.
Ricardo Pereira tratava, há quatro anos, um câncer no pâncreas e no fígado. Em setembro, o jornalista se aposentou e participou da cerimônia de transição do cargo de direção da Globo Portugal.
MEMÓRIA GLOBO: A trajetória de Ricardo Pereira
Ao longo de mais de 40 anos, Pereira desenvolveu uma carreira marcante na Globo. Foi repórter de política e correspondente internacional, além de diretor. Em todas as funções, noticiou fatos de grande repercussão para o Brasil e o mundo.
Jornalista Ricardo Pereira em foto de arquivo
TV Globo/Reprodução
Trajetória
O jornalista chegou à Globo em 1977, como repórter do Jornal Nacional e do Fantástico. No ano anterior, já tinha feito reportagens para a Globo, ainda como “freelancer”.
Em 1978, mudou-se para Brasília com a missão de acompanhar o processo de abertura política no país, iniciado pelo então presidente militar Ernesto Geisel.
Em 1980, Ricardo Pereira se tornou correspondente da Globo em Londres, no Reino Unido. Por lá, cobriu eventos como o terremoto no Sul da Itália e a guerra entre Irã e Iraque – quando conseguiu uma entrevista com o ditador iraquiano Saddam Hussein.
Em 1983, o jornalista passou a comandar o escritório da Globo em Londres. Em 1986, se mudou para a Itália, onde dirigiu o jornalismo da Telemontecarlo, então associada às Organizações Globo. Em 2006, ainda na Itália, tornou-se consultor da Globo para a distribuição do canal na Europa.
Em 2011, foi nomeado diretor da Globo Portugal, cargo no qual permaneceu até setembro deste ano.
Aposentadoria e documentário
Apesar da aposentadoria em setembro, Ricardo Pereira queria seguir registrando grandes histórias.
Nos últimos meses, preparava um documentário para o Globoplay sobre um diário de guerra que ele mesmo encontrou em uma viagem em 1983 às Ilhas Malvinas – território alvo de disputa entre a Argentina e o Reino Unido.
A guerra entre os países pelo comando das ilhas havia terminado um ano antes, em 1982. Pereira foi o primeiro repórter de TV não britânico com permissão para entrar no local.
“Nestas mesmas colinas, nós encontramos este diário de um soldado argentino, o soldado Adrian Sacheto. O diário do soldado Sacheto conta que no dia 30, já a bordo do navio, é que ele ficou sabendo para onde estava indo. Iam voltar as Ilhas Malvinas. Iam retomar dos ingleses, segundo os comandantes”, conta trecho do roteiro do documentário.
Mesmo lutando contra o câncer, em meio ao tratamento, Ricardo Pereira manteve a perseverança e a disposição para elucidar o que estava por trás do diário. A postura na elaboração do documentário é exemplo da marca jornalística de Ricardo Pereira, ao longo de toda a carreira.
Ricardo Pereira em cena do documentário nas Maldivas
Divulgação
Memória Globo
Em depoimento ao projeto Memória Globo, Ricardo Pereira relembrou algumas de suas principais coberturas ao longo da carreira. Leia trechos:
Terremoto no Sul da Itália, em 1980: “Foi a cobertura mais dramática que eu fiz na minha carreira. Nunca tinha visto nada igual. Morte, destruição e dor causadas por uma mistura trágica de fatalidade e pobreza”, lembra.
Copa do Mundo de 1982: “Foi a Copa dos sonhos da TV Globo e de todos nós que participamos. Para ser perfeito só faltou combinar com os italianos. A Globo era exclusiva na Copa. Nós éramos 150 brasileiros cobrindo o evento na Espanha, uma Copa fantástica”, conta.
Malvinas pós-Guerra, 1983: “Conseguimos autorização do governo inglês para ir para as Malvinas. Eu fui com o cinegrafista Newton Quilichini. Vimos o absurdo que foi aquela guerra. As tropas inglesas conseguiram tomar Goose Green, que parecia uma cidade importantíssima na geopolítica das ilhas. Mas Goose Green são exatamente quatro casas e uma igreja. Achamos diários de soldados argentinos. Aquela operação militar foi um equívoco, morreu muita gente a troco de nada”.




Fonte: G1

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