‘Mulheres sobre tela’: Designer de moda ressignifica conceito de vestir ao desafiar padrões de produção dando espaço para clientes se expressarem
Há 15 anos, a artista, de Presidente Prudente (SP), teceu uma forma de autoexpressão que foge dos moldes tradicionais ao olhar com atenção para as singularidades de cada mulher.
Para você, o que é ser livre? A aplicação desse adjetivo, do latim libertas, não está necessariamente atrelado a feitos grandiosos. Ele se manifesta nas decisões mais sutis do cotidiano, como escolher qual roupa usar. Assim tem sido para as mulheres que vestem a marca de Milena Saito, designer de moda de Presidente Prudente (SP) que, há 15 anos, escolheu resistir aos padrões do mercado e encorajar outras mulheres a fazerem o mesmo por meio da arte de ressignificar o conceito de “vestir”.
“Dar espaço para que as mulheres se vistam como desejarem é uma forma de combater o machismo e os padrões sociais existentes. Viver a moda como uma via de autoexpressão é uma forma de combater diversas opressões, como também o etarismo e o racismo, sem precisar falar”, argumentou ao g1.
Por meio da arte do handmade, Milena Saito ressignificou o conceito de ‘vestir’
Acervo pessoal
Desde que se formou em design de moda pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Estado do Paraná, a artista, de 38 anos, optou por trabalhar de forma personalizada, focando seus atendimentos nas singularidades e nos desejos de cada pessoa.
“No início, essa escolha veio como uma resposta contra a produção em série e padronizada dentro da indústria da moda. Após alguns anos trabalhando dessa forma, fui percebendo o quanto tem potência essa forma artesanal e singular de produção”, lembrou ao g1.
Entre estampas, linhas e agulhas, a designer de moda teceu uma forma de autoexpressão que foge dos moldes tradicionais ao olhar com atenção para cada mulher. As criações nascem a partir do slow fashion – produções totalmente artesanais e, por consequência, mais demoradas; um estilo de trabalho contrário à corrente do fast fashion, que valoriza a produção em série e massificada, desconsiderando as particularidades e os gostos de cada pessoa.
Artista prudentina pratica o slow fashion há 15 anos
Acervo pessoal
‘Corpos reais’ 👗
No ateliê, localizado no Jardim das Rosas, Milena é responsável por todos os processos que envolvem a marca, denominada Amardura, desde a idealização das peças até o corte, a costura, a personalização e até mesmo a divulgação, sempre com o critério de levar conforto e uma estética mais despojada “que não se prenda às tendências do momento”.
“É uma forma de se libertar da ditadura que, muitas vezes, a moda representa. Entre tantos certos e errados, pode e não pode, no ateliê há espaço e liberdade para escolher conforme o desejo pessoal de cada mulher, de acordo com o olhar que ela tem de si mesma. Seguindo essa linha de raciocínio, o poder de escolha ao vestir-se pode ser uma das tantas formas de empoderamento feminino”, afirmou a designer.
Milena é responsável por todos os processos que envolvem a marca
Acervo pessoal
Para a artista, ao escolher uma peça de roupa que goste, a cliente se sentirá mais confortável e bonita, fazendo com que a peça seja usada por mais tempo e tenha vida útil “muito maior”, contribuindo, ainda, para a sustentabilidade do planeta.
Mas, para além da estética, colocar uma roupa que respeite as medidas de cada corpo e o estilo de quem a veste representa liberdade: de ser, pertencer e aparecer.
“Essa é uma forma de voltar o olhar para si, [re]conhecendo-se e afirmando os próprios gostos, além de proporcionar uma noção real das medidas do próprio corpo, tendo a compreensão de que as vestimentas devem se adequar aos corpos reais e não o contrário”, enfatizou Milena Saito.
‘Dar espaço para que as mulheres se vistam como desejarem é uma forma de combater o machismo’, reflete a designer de moda Milena Saito, que possui ateliê em Presidente Prudente (SP)
Acervo pessoal
‘Proteger e bendizer’ 🧿🌿
A artesã ainda compartilhou com o g1 a ideia de que toda peça carrega afeto, motivo pelo qual oferece a chance de personalizações únicas, por meio de carimbos contendo trechos de poesias e letras de músicas e até de folhas secas naturais.
Desta forma, cada produção imprime uma característica inédita, já que nenhuma peça fica igual a outra, estabelecendo conexões profundas e até mesmo com o sagrado.
“Ao usarmos carimbos de letras ou folhas naturais, como folha de comigo-ninguém-pode, lavanda ou alecrim, é uma forma de carregar a vestimenta de sentido para quem a veste. Desta forma, a vestimenta existe não apenas para esconder ou proteger a nudez, mas passa a existir também para proteger, bendizer e encantar”, concluiu ao g1.
Segundo Milena, roupa carrega afeto e existe também para proteger, bendizer e encantar
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Fonte: G1