Petrobras perde R$ 53,1 bilhões em valor de mercado até as 13h após resultados de 2023




O levantamento é de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria. Pagamento de R$ 72,4 bilhões em dividendos veio abaixo do esperado pelos investidores. Edifício-sede da Petrobras, no centro do RJ
Marcos Serra Lima/g1
A Petrobras perdia R$ 53,1 bilhões em valor de mercado até as 13h desta sexta-feira (8), após a empresa frustrar as expectativas de analistas com os dividendos propostos — que são uma parcela do lucro das empresas dividida entre os acionistas — na divulgação dos resultados de 2023. O levantamento é de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.
Durante a tarde, as ações da petroleira chegaram a cair mais de 13%, mas reduziram a perda para a casa dos 10%.
Foram anunciados R$ 14,2 bilhões em dividendos para o trimestre, dentro do modelo mínimo da companhia. O mercado esperava um pagamento de dividendos extraordinários, o que não ocorreu.
Se aprovado, o total de dividendos pagos referentes a 2023 será de R$ 72,4 bilhões. Em 2022, foram distribuídos R$ 194,6 bilhões.
A queda brusca já havia sido sinalizada no pré-mercado da bolsa americana. Na abertura do pregão brasileiro nesta manhã, os papéis foram colocados em leilão. O mecanismo é acionado quando uma ação cai mais de 10% em relação ao valor que ela registrou no fechamento do dia anterior.
As ações despencaram mesmo depois de a empresa registrar seu segundo maior lucro histórico no ano passado, de R$ 124,6 bilhões. Apesar de sólido, o valor representa uma redução de 33,8% em relação ao ano anterior.
Segundo a própria companhia, esse resultado foi influenciado por uma queda de 18% no preço do petróleo nos mercados internacionais, mas parcialmente compensado pelo aumento no volume de vendas da empresa.
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Sem dividendos extraordinários
O valor a ser pago em dividendos é definido pela própria empresa, seguindo alguns critérios. A Petrobras adotou o valor mínimo para pagamento, que é de 45% do fluxo de caixa livre (ou seja, o dinheiro que fica à disposição no caixa da empresa).
“Ainda que [a distribuição de dividendos anunciada] esteja em linha com a política de remuneração, [o número] ainda é uma grande decepção”, avaliaram os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Péres, do BTG Pactual, em relatório.
A estimativa do BTG Pactual era de que a Petrobras pagasse um dividendo adicional de cerca de US$ 4 bilhões (aproximadamente R$ 20 bilhões), baseado no resultado fiscal da companhia do ano passado.
Em vez de ser distribuído, o lucro remanescente do exercício, que totaliza R$ 43,4 bilhões, será integralmente destinado para a reserva de remuneração de capital da empresa – uma reserva recém-criada para assegurar os pagamentos aos acionistas em outros compromissos financeiros.
Para analistas, o histórico de investimentos da companhia gera receio nos investidores de que a empresa esteja tomando um rumo ruim de alocação de capital.
No plano estratégico da Petrobras de 2020 a 2024, ainda na gestão passada, a companhia havia anunciado o desejo de realizar de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em desinvestimentos (venda de ativos, como edifícios, equipamentos etc.) para o período. Mas isso já foi revertido no planejamento até 2028.
Em entrevista à GloboNews, o economista André Perfeito afirmou que o que está na mesa agora são as dúvidas do mercado a respeito do que a companhia vai fazer com o dinheiro que ficou como recurso dentro da estatal.
“Já se viu no mercado que a Petrobras vai se orientar para mais investimentos. Mas que investimentos? De que jeito? Vai ser transição energética? Isso vai dar quanto lucro? É natural que […] o mercado e os investidores estrangeiros queiram saber o que vai ser feito com esse lucro”, afirmou.
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Para os analistas da XP Investimentos André Vidal e Helena Kelm, isso faz com que os investidores “repensem sua visão sobre os riscos da Petrobras.”
“Vemos a tese de investimentos agora como uma questão de avaliar a probabilidade de grandes movimentos de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições] ocorrerem no curto prazo”, avaliaram em relatório.
Eles afirmam que, se foi isso que levou à decisão do Conselho de Administração, as ações provavelmente cairão ainda mais, “devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos”.
“Por outro lado, se isso tiver sido motivado principalmente pela vontade do governo de manter um ‘plano de reserva’ para o caso de as contas fiscais se deteriorarem em breve, então esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, completaram os analistas em relatório.
A XP Investimentos, em relatório, disse que esperava uma distribuição de dividendos de R$ 19,2 bilhões, “para o mínimo”, a R$ 27,1 bilhões, “para o extraordinário”.
O Conselho de Administração da Petrobras encaminhou à Assembleia Geral Ordinária (AGO) um pagamento equivalente a cerca de R$ 1,10 por ação, dividido em duas parcelas de R$ 0,55 por ação.
“Tal valor implica em um rendimento de 2,7% no 4T23 e 10,8% em termos anualizados – interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel”, pontua Vitor Souza, analista de Setor Elétrico e Saneamento da Genial Investimentos.
Em relatório, Souza destaca que os números apresentados pela petroleira são vistos como “neutros”. “Ainda que abaixo do consenso, é importante mencionar que o resultado trimestral foi puxado para baixo devido a um evento não-recorrente e não-caixa (ou seja, situações específicas e que não são previstas para os próximos trimestres) de valor expressivo: R$7,4 bilhões”, comenta.
A queda na Petrobras puxava para baixo o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira. O indicador tinha queda de 1,10%, aos 126.963 pontos. Sozinha, a Petrobras tem cerca de 13% de peso no índice.




Fonte: G1

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